Home > FEB > Mensagem de ontem, ensinamento de sempre…

Mensagem de ontem, ensinamento de sempre…

A Revelação Espírita

Juvanir Borges de Souza

Quando se penetra na índole e no caráter da Revelação Espírita logo se percebe que ela representa uma nova etapa na evolução da Humanidade.

Até mesmo o homem primitivo teve uma noção indefinida de que sua dimensão ia além de sua expressão física.

Através dos milênios as diferentes frações dos habitantes da Terra inclinaram-se a determinadas crenças, que se firmaram como grandes religiões, ou desapareceram na voragem do tempo.

Há uma constante ideia, que atravessa as eras, da existência da vida em outra dimensão, de um mundo invisível ao lado do mundo das formas. Por isso, as religiões e filosofias mais antigas sempre expressaram essa ideia.

Caberia ao Espiritismo revelar aos homens todo o esplendor e o realismo do Mundo Invisível, nos seus múltiplos desdobramentos, aniquilando de forma definitiva a incongruência do materialismo.

É preciso entender as dimensões do homem na perspectiva espírita, que vai muito além do conceito que lhe deram o materialismo e as filosofias e religiões tradicionais. O relacionamento entre os dois mundos, o visível e o invisível, vem de tempos imemoriais.

As interpretações dos homens quanto ao campo de ação de cada um deles é que tem variado, ora aproximando-se da realidade, ora distanciando-se dela. Se a própria interpretação do mundo das formas já é difícil para o homem, que nele vive, justamente porque se torna necessário descobrir-se o objetivo da vida e o seu porquê; as dificuldades se alteiam quando se busca o conhecimento do mundo oculto.

A Revelação Espírita deixou claro que fragmentos da Verdade foram percebidos nas diversas fases pelas quais tem passado a Humanidade; que, assim, as grandes religiões do mundo contêm parcelas da Realidade; mas foi necessária uma longa preparação para que o homem pudesse perceber essa realidade, sem se deixar envolver por desvios de percepção e de interpretação.

Acontece que, tanto no mundo conhecido quanto no invisível, mesclam-se verdades e enganos, sabedoria e ignorância, virtudes e vícios. No intercâmbio, que sempre existiu, entre os dois mundos, nem sempre os homens puderam distinguir o certo do errado.

Seria preciso o fluir do tempo e as Grandes Revelações parciais aclarando o caminho, para que o Espiritismo, como última etapa das revelações, mostrasse a verdadeira face que nos compete conhecer do que vem do Alto. O conhecimento espírita veio através da experimentação, da mediunidade.

Mas a mediunidade, que tanto pode servir ao bem quanto ao mal, precisaria de elevação moral indiscutível, de direcionamento no bem, de altos conhecimentos teóricos dos experimentadores, de inspiração superior. Todo esse acervo de qualidades positivas foi reunido pelo Codificador nos trabalhos da recepção da Doutrina.

É sabido que Allan Kardec não foi missionário improvisado, mas preparado em múltiplas vivências, na Terra e no Espaço, para que estivesse apto para a excepcional tarefa, em determinado momento da trajetória humana.

De outro lado, o Cristo já deixara sua Mensagem Divina, na sua pureza original, há muitos séculos. As ciências dos homens já haviam retificado grandes erros do passado, transformados em dogmas religiosos. E o clima de liberdade já se instalara no mundo visível, pondo fim ao obscurantismo e às imposições de governantes e chefes religiosos. 

Assim, em meados do século XIX tornou-se possível a manifestação do Mundo Espiritual Superior, enviando aos homens uma doutrina realista, escoimada de ilusões, toda voltada para a Verdade e para o Bem.

Era o Consolador que se corporificava no Espiritismo, em cumprimento à promessa feita pelo Cristo.

As circunstâncias em que apareceu a Doutrina Espírita entre os homens – a preparação do Codificador, com seus conhecimentos teóricos e práticos, os objetivos visados, a escolha dos médiuns que serviram à recepção da Nova Mensagem, todo esse conjunto de fatos circunstanciais de extrema importância – nos mostram a responsabilidade que cabe ao espírita no trato e na prática de sua Doutrina.

Não nos cabe apenas a demonstração da existência e da sobrevivência do Espírito, pura e simplesmente, através do intercâmbio entre os dois mundos. Esse fato sempre esteve presente em todas as épocas.

Na prática espírita precisam ser preservadas e buscadas as relações com os bons Espíritos, com a Espiritualidade Superior, com aqueles que têm algo de útil e de bom a oferecer aos encarnados.

O Espiritismo, que adota a moral do Cristo, interpretada pela Espiritualidade Superior, não pode transformar-se em veículo das meias-verdades da ciência espiritual, provindas da espiritualidade inferior, onde pululam os sistemas filosóficos individuais e as informações mescladas de individualismo, de personalismo e de mundanismo.

Se a Espiritualidade Superior preservou o Espiritismo da mescla com o erro, com o inferior, preferindo guardar, por milênios, as verdades indiscutíveis da Terceira Revelação, antes de torná-las evidentes, é sinal de que, agora, cabe aos homens preservar essas verdades.

Não podemos, os espíritas conscientes e sinceros, dar guarida a tudo que advém da Espiritualidade, como fizeram nossos antepassados, confundindo realidades com erros e superstições.

Agora, quando os homens dispõem de parâmetros confiáveis – a Doutrina Espírita e o Evangelho de Jesus, entendido em espírito – não mais se justificam os enganos antes justificáveis. Isto não significa fechar as portas da mediunidade às manifestações inferiores.

Nosso mundo atrasado não comportaria tal providência. Seria antinatural, já que o intercâmbio está na própria natureza das coisas. Mas significa que há necessidade de muito maior vigilância sobre toda a matéria que advém do Mundo Espiritual, através da mediunidade.

Há que se submeter todas as comunicações, mensagens, livros sobre os mais diferentes assuntos ao crivo da análise e da crítica, à luz da Doutrina e do Evangelho. Não é uma tarefa fácil, mas é absolutamente necessária, para que se preserve a Doutrina do Consolador da avalanche de ideias e informações divorciadas da verdade.

Diz-nos Léon Denis, com muita acuidade e sabedoria: “O vasto império das almas está povoado de entidades benfazejas e maléficas; elas se desdobram por todos os graus da infinita escala, desde as mais baixas e grosseiras, vizinhas da animalidade, até os nobres e puros Espíritos, mensageiros de luz, que a todos os confins do tempo e do espaço vão levar as irradiações do pensamento divino. Se não sabemos ou não queremos orientar nossas aspirações, nossas vibrações fluídicas na direção dos seres superiores, e captar sua assistência, ficamos à mercê das influências más que nos rodeiam, as quais, em muitos casos, têm conduzido o experimentador imprudente às mais cruéis decepções.” (No Invisível – Introdução – ed. FEB.)

Não faltam aos espíritas sinceramente desejosos de servir à Grande Causa as advertências da Espiritualidade Superior a propósito da necessidade da vigilância permanente para que não haja desvios de rumos nas fileiras espíritas, infelizmente muito comuns: “Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade. 

(Erasto, Paris, 1863 – in O Evangelho segundo o Espiritismo – pág. 314, 112ª ed. FEB).

Essas reflexões cabem perfeitamente diante da literatura de duvidosa procedência que invade o Movimento Espírita, que a invigilância de escritores encarnados e desencarnados, de médiuns e de editoras procura impingir como espírita. 


Opções de privacidade