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Liberdade e Responsabilidade

Liberdade significa o direito de agir segundo a  própria vontade ou  livre arbítrio, desde que pessoas ou instituições não sejam prejudicadas. Daí os orientadores  informarem, em O Livro dos Espíritos,  que não existe liberdade absoluta, mas relativa: “[…] porque todos precisais uns dos outros, tanto os pequenos como os grandes.”1 Complementam esse pensamento ao afirmarem que o limite da liberdade individual está restrito à liberdade do outro: “[…] Desde que dois homens estejam juntos, há entre eles direitos a serem respeitado e, portanto, nenhum deles gozará de liberdade absoluta.”2 Mesmo a liberdade de pensar que, no primeiro momento,  nos dá sensação de ser ampla e infinita, percebemos que os nossos pensamentos fazem vinculações com outros pensamentos, pelos processos naturais das afinidades e sintonias, condições que podem ampliar, ou não,  o grau da nossa liberdade

A adequada compreensão desse teor de ideias ensina-nos como agir corretamente nos diferentes níveis do relacionamento humano: familiar, profissional, social, institucional, religioso etc., visto que a  liberdade de pensar, falar e agir, além de ser restritiva em si mesma, desencadeia consequências, boas ou más, no tempo e no espaço, pois, como esclarece o lúcido benfeitor Emmanuel, o pensamento é produto do ser pensante, da sua mente:

A mente é o espelho da vida em toda parte.
[…]
Nos seres primitivos, aparece sob a ganga do instinto, nas almas humanas surge entre as ilusões que salteiam a inteligência, e revela-se nos Espíritos aperfeiçoados por brilhante precioso a retratar a Glória Divina.
Estudando-a de nossa posição espiritual, confinados que nos achamos entre a animalidade e a angelitude, somos impelidos a interpretá-la como sendo o campo de nossa consciência desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar.
 Definindo-a por espelho da vida, reconhecemos que o coração lhe é a face e que o cérebro é o centro de suas ondulações, gerando a força do pensamento que tudo move, criando e transformando, destruindo e refazendo para acrisolar e sublimar.3

O atual estágio evolutivo da humanidade terrestre demonstra que o indivíduo já possui um certo domínio sobre os seus atos instintivos e que a sua inteligência está mais aperfeiçoada, decorrente da  aquisição de conhecimentos intelecto-morais ao longo das  experiências reencarnatórias  e nos estágios ocorridos no plano espiritual. Assim, já não se justifica o desconhecimento da utilização de certos princípios, sobretudo os de natureza moral e ético, que regulam as relações interpessoais ─ definidas como a forma de nos relacionamos com o próximo.

Tudo isso nos conduz à certeza de que a liberdade de agir, por mais insignificante que seja a sua manifestação, apresenta consequências, a curto, médio e longo prazos. Surge, então, a necessidade premente de agir com responsabilidade.

A noção de responsabilidade  está apoiada nos preceitos éticos e morais que  a sabedoria do Evangelho de Jesus sintetiza em suas lições, das quais extraímos apenas dois ensinamentos para a nossa reflexão imediata:

        • O primeiro é: […] Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo  teu entendimento, e com toda a tua força. E o segundo é este:  Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior do que este […]. Marcos, 12: 29-3.
        • Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e  os Profetas. Mateus, 7: 12.

Revela um certo grau de maturidade espiritual, o indivíduo que estabelece como norma comportamental associar a liberdade com a responsabilidade, antes de tomar qualquer decisão. Essa forma de agir, moralmente correta, representa   o que se conceitua como liberdade de consciência ─ essa voz íntima, lúcida e mansa, que a providência divina marcou todos os seres humanos para auxiliá-los a evoluir.  

A liberdade de consciência nos transforma em pessoas melhores, aptas a pôr em prática a lei de justiça, amor e caridade: “[…] A liberdade de consciência é uma das características da verdadeira civilização e do progresso.” 4
A benfeitora Joanna de Ângelis revela o segredo dos bons relacionamentos, a partir de conhecida história popular:

Uma velha fábula conta que, numa já remota era glacial, os porcos-espinhos sentiram-se ameaçados de destruição pelo frio que reinava em toda a parte. Por instinto, uniram-se e conseguiram sobreviver em razão do calor que irradiavam. Não obstante, pelo fato de estarem próximos, uns dos outros, passaram a ferir-se mutuamente, provocando reações inesperadas, quais o afastamento deles. Como consequência da decisão, todos aqueles que se encontravam distantes passaram a morrer por falta de calor. Os sobreviventes, percebendo o que acontecia, reaproximaram-se, agora, porém, conhecedores dos cuidados que deveriam manter, a fim de não se magoarem reciprocamente. Graças a essa conclusão feliz, sobreviveram à terrível calamidade. 5

Joanna acrescenta, como conclusão: “Trata-se de excelente lição para uma feliz convivência, um produtivo relacionamento […].”6

REFERÊNCIAS 

  1. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 9. imp. Brasília: FEB, 2020. Q. 825, p. 357.
  2. Q. 826, p. 357.
  3. XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 19 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. 1, p. 9.
  4. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 9. imp. Brasília: FEB, 2020. Q. 837, p. 360.
  5. FRANCO, Divaldo Pereira. Despertar do espírito. Por Joanna de Ângelis. 4 ed. Salvador: LEAL, 2000. Cap. Relacionamentos humanos, 135-136.
  6. 136.

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