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Waldheir Bezerra: O livro dos médiuns, manual indispensável aos que se dedicam ao intercâmbio mediúnico

No ano em que celebra os 160 anos de O livro dos médiuns, a FEB apresenta, em uma série de ações, conteúdo relacionado à mediunidade. Nesta entrevista, com Waldehir Bezerra de Almeida, autor de A complexidade da prática mediúnica, pela FEB Editora, trazemos alguns aspectos a respeito do tema:

Comunicação FEB: Waldehir, Allan Kardec referia-se aos médiuns como intérpretes do pensamento dos Espíritos. Como podemos compreender essa afirmação?

Imaginemos um livro que deverá ser vertido de uma língua estrangeira para o idioma português por mais de um tradutor. Sem dúvida nenhuma, encontraremos diferenças nas suas palavras, pois estarão condicionadas ao grau de conhecimento da língua e ao acervo cultural de cada tradutor, sem, contudo, ocorra que as traduções afastem-se da mensagem essencial da obra. No caso de uma mensagem transmitida mediunicamente, seja pela psicofonia ou psicografia – para ficarmos apenas nesses dois fenômenos – cada médium será o tradutor do pensamento do Espírito comunicante, e, não havendo nenhum médium igual a outro no seu potencial psíquico e cultural, as mensagens não serão exatamente iguais na forma, embora devam guardar o mesmo sentido, a mesma informação.

Em nosso entendimento, a leitura e análise do item 225 de O livro dos médiuns encerra essa questão, deixando claro para todos os interessados que o médium é simples intérprete do pensamento do Espírito, o qual desenvolve exaustivo trabalho para alcançar os melhores resultados, tal como nos esclarece o médico de Nosso lar em diferentes passagens do primeiro capítulo da obra Missionários da luz, trazida a nós pelas abençoadas mãos do médium Francisco Cândido Xavier:

– A operação da mensagem não é nada simples, embora os trabalhadores encarnados não tenham consciência de seu mecanismo intrínseco (…). (XAVIER, Francisco Cândido. André Luiz (Espírito). Missionários da luz. 43ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011, p. 17).

– Transmitir mensagens de uma esfera para outra, no serviço de edificação humana (…) demanda esforço, boa vontade, cooperação e propósito consistente. É natural que o treinamento e a colaboração espontânea do médium facilitem o trabalho; entretanto, de qualquer modo, o serviço não é automático… Requer muita compreensão, oportunidade e consciência. (XAVIER, Francisco Cândido. André Luiz (Espírito). Missionários da luz. 43ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011, p. 16).

 

Comunicação FEB: O que é o processo de animismo? Ele se concilia com a mediunidade?

Limitando-nos ao entendimento do animismo dentro do universo espírita, afirmamos que se trata da atuação da alma do médium nas comunicações mediúnicas, assegurando, portanto, que não há fenômeno mediúnico sem animismo, ou seja, sem que a alma do médium participe do processo. Ousamos afirmar que é da lei do intercâmbio entre os mundos material e espiritual que todo fenômeno mediúnico deva ter a participação ativa do médium, pois, sendo a mediunidade um instrumento para sua evolução, sem a participação dele durante o fenômeno, o processo evolutivo não se daria, não havendo para o sensitivo, portanto, nenhum proveito.

Trazendo um pouco de História, lembramos que, no início do século XX, diante das discussões que ocorriam em torno do tema, gerando descrédito nas manifestações dos Espíritos, entrou em campo o eminente pesquisador italiano Ernesto Bozzano (1862–1943), o qual foi convidado a responder ao Conselho Diretor do Congresso Espírita Internacional, em Glasgow, na Escócia, se tais fenômenos eram puramente animismo ou espiritismo. E o eminente estudioso respondeu, após robusta pesquisa, da seguinte maneira:

Nem um, nem outro, pois ambos são indispensáveis à explicação do conjunto dos fenômenos supranormais, cumprindo se observe, a propósito, que são efeitos de uma causa única: o espírito humano que, quando se manifesta em momentos fugazes, durante a existência “encarnada”, determina os fenômenos Anímicos e, quando se manifesta na condição de “desencarnado” no mundo dos vivos, determina os fenômenos Espíritas. (Animismo ou espiritismo? FEB Editora).

Compete ao médium interpretar os pensamentos do Espírito comunicante e traduzi-los com os recursos mentais que possui, na forma oral ou escrita. Diante dessa realidade, não temos dúvidas de que mediunidade e animismo conciliam-se perfeitamente e, sem dúvida, é por essa razão que os Espíritos insistem na educação intelectual e moral dos médiuns, na expectativa de encontrarem, na mente deles, os recursos para melhor traduzirem seus pensamentos.

 

Comunicação FEB: Quais as diferenças e semelhanças entre a comunicação humana e a mediúnica?

Entendemos que há muito mais semelhanças do que diferenças, já que o objetivo das duas naturezas da comunicação é um só: tornar comum uma ideia ou um comportamento; chegar a um entendimento entre os homens. Para tanto, o processo da comunicação pela fala, em particular, exige obediência a determinados princípios e tem como principais participantes o locutor (quem transmite a ideia) e o interlocutor, aquele que recepciona a mensagem.

Para ser sucinto e melhor compreendido, permito-me apresentar o seguinte quadro comparativo:

 

COMUNICAÇÃO HUMANA

           COMUNICAÇÃO MEDIÚNICA

a.     O meio adotado é a fala, com os símbolos, o som, as imagens…

a.     O meio adotado é o pensamento.

b.     O receptor deverá interpretar a mensagem escrita, falada ou sinalizada pelo emissor.

b. O médium (receptor) deverá interpretar as ideias emitidas pelo pensamento do Espírito comunicante (emissor).

c.     O emissor deverá graduar sua mensagem em conformidade com o universo de conhecimento, experiência de vida e valores do receptor.

c.     O Espírito comunicante graduará sua vibração mental, impondo limites aos seus conhecimentos, em respeito aos conhecimentos oferecidos pelo médium, o qual, por sua vez, deverá se esforçar para com ele sintonizar.

d.     O receptor deve se interessar pela mensagem, para se propor a ouvir o emissor.

d.     O médium deverá ter boa vontade e interesse em sintonizar com o Espírito comunicante.

e.     A interpretação da mensagem pelo receptor é a chave da comunicação humana. Não importa o que diz o emissor, mas o que entende o receptor.

e.     A mensagem traduzida pelo médium (que nem sempre reflete com pureza o pensamento do Espírito) será a que circulará entre nós, os encarnados.

 

Na comunicação humana estabelece-se uma troca, busca-se o equilíbrio entre informação e conhecimento. Para se alcançar esse equilíbrio, deve-se levar em conta significativa relação de troca entre quem comunica e quem é comunicado; logo, a comunicação é uma via de duas mãos. Da mesma forma acontece com a comunicação mediúnica.

Não foi sem razão que o Mestre Jesus primou por esse princípio de relação de troca, adotando repassar suas ideias por meio de parábolas, cujos temas estavam relacionados com os costumes e atividades daqueles que O ouviam.

 

Comunicação FEB: Seria, O livro dos médiuns, o melhor roteiro àquele que deseja estudar e bem conduzir a sua mediunidade?

A verdade é que não há, nos anais da História, apresentação do estudo e da prática da mediunidade de forma sistematizada e científica como o fez Allan Kardec. O que sempre existiu foi a explosão do fenômeno e sua utilização, de forma espontânea e anárquica, sem que se conhecesse a sua natureza e sua utilidade para o progresso moral e intelectual da Humanidade. A partir de O livro dos médiuns, em 15 de janeiro de 1861 (Paris), a faculdade mediúnica foi adestrada para uso consciente a serviço do bem e do progresso moral e espiritual da Humanidade. Há quem a conspurque, tirando dela proveitos inconfessáveis ou usando-a para fins terra-a-terra, de forma irresponsável, entregando-se, tais médiuns, às forças do mal e construindo um futuro de experiências dolorosas, até que aprendam a usar a mediunidade como ferramenta de evolução para si próprios e para os que dela se valem.

A tese fundamental de O livro dos médiuns é a da existência do períspirito, ou corpo energético dos Espíritos, elemento que liga o Espírito ao corpo material. A partir da comprovação da existência do perispírito, a obra aprofunda-se e explica toda a fenomenologia espírita.

Ao anunciar a publicação do livro, na Revista Espírita, esclarece Allan Kardec:

O Espiritismo experimental é cercado de muito mais dificuldades do que geralmente se pensa, e os escolhos aí encontrados são numerosos. É isso que ocasiona tantas decepções aos que dele se ocupam, sem a experiência e os conhecimentos necessários. Nosso objetivo foi o de prevenir contra esses escolhos, que nem sempre deixam de apresentar inconvenientes para quem se aventure sem prudência por esse terreno novo. Não podíamos negligenciar um ponto tão capital, e o tratamos com o cuidado que a sua importância reclama. (Revista Espírita. Janeiro de 1861. 1. ed. FEB, 2006, p. 23).

Por essa razão O livro dos médiuns torna-se um manual indispensável aos que se dedicam ao intercâmbio mediúnico e, essencialmente, àqueles que têm a responsabilidade de conduzir os médiuns ao desenvolvimento e educação de suas faculdades, bem como aos que assumem a condução de um grupo de médiuns destinados ao trabalho de assistência espiritual por meio da desobsessão.

 

 


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