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As Bases da Unificação do Movimento Espírita

Marta Antunes Moura
vice-presidente da FEB
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     “Solidários, seremos união. Separados uns dos outros, seremos pontos de vista.” – Bezerra de Menezes 1

 

A palavra unificação deriva do verbo unificar significa tornar único ou unido; reunir num só corpo ou num todo; unir, juntar, agregar. Unificação do Movimento Espírita é expressão que vai além da simples conceituação gramatical, geralmente relacionada a homogeneização de procedimentos organizacionais das instituições espíritas. Implica, sobretudo, o conhecimento e o esforço de vivenciar  princípios espíritas, fundamentados no Evangelho de Jesus, os quais promovem  a melhoria  intelectual e moral do Espírito imortal.

Tal constatação  tem como referencial, histórico e  doutrinário, a promessa do Cristo, em seguida inserida  no item 1, mas, também, as mensagens esclarecedoras incessantemente enviadas pelos Espíritos orientadores (veja itens 2 e 3), a partir da publicação de O Livro dos Espíritos.

 

  1. O Consolador Prometido por Jesus: Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre. O Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará entre vós. […] Mas aquele Consolador, que é o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito (João, 14: 15 a 17 e 26.)

         Ao analisar essa promessa do Cristo, Allan Kardec assim se pronuncia: Jesus promete outro Consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para compreender,    Consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo havia dito, Se, portanto, o Espírito de Verdade   devia vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o seu ensino foi esquecido ou mal compreendido.2

       Um esclarecimento nos parece útil: em algumas traduções dos textos evangélicos, a palavra Consolador está escrita como paráclito ou paracleto (gr. paráklētos e lat. paracletus), que traz o significado de “aquele que consola ou conforta; aquele que encoraja e reanima; aquele que revive; aquele que intercede em nosso favor como um defensor numa corte”.3 Para o Judaísmo, paráclitos ou paracletos são defensores, primordialmente no sentido de intercessores humanos.

No Novo Testamento, a palavra aparece apenas nos textos de João, e, em todos os casos, ela pode ser entendida como “conselheiro”, “ajudante”, “encorajador”, “defensor” ou “consolador”. A Igreja antiga identificou “paracleto” como o Espírito Santo, e, desde então, os cristãos utilizam o termo como sinônimo de Espírito de Deus.4 Em 1 João, 2:1: “Paráclito é utilizado para descrever o papel de intercessor que Jesus tem junto ao Pai em nome dos fiéis”.5

Independentemente do sentido etimológico, o certo é que Jesus nos fez uma promessa que, para os espíritas, foi plenamente cumprida com o advento da Doutrina Espírita ou Espiritismo. Emmanuel assinala, a propósito:

         O Espiritismo evangélico é o Consolador prometido por Jesus, que, pela voz dos seres redimidos, espalham as luzes divinas por toda a Terra, restabelecendo a verdade e levantando o véu que cobre os ensinamentos na sua feição de Cristianismo redivivo, a fim de que os homens despertem para a era grandiosa da compreensão espiritual com o Cristo.6

            2) O advento da Doutrina Espírita ou Espiritismo

Sob a coordenação do Espírito de Verdade (o próprio Jesus), o Espiritismo materializou-se no plano físico e está consolidado na Codificação Espírita (O livro dos espíritos, O livro dos médiuns, O evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese), também conhecida como Pentateuco Kardequiano.

Em razão das qualidades pessoais e experiências adquiridas nas vidas pregressas e no Plano Espiritual, Hippolyte Léon Denizard Rivail, sob o pseudônimo Allan Kardec, foi o Espírito escolhido pelo Cristo para trazer o Consolador Prometido à humanidade terrestre. Tarefa, aliás, cumprida com total êxito. Contudo, importa destacar, uma missão de tamanha envergadura não poderia, sob quaisquer circunstâncias, ser realizada apenas por uma pessoa, ainda fosse esta um Espírito de grande evolução espiritual.

Na verdade, percebe-se nitidamente a atuação simultânea de duas equipes de trabalhadores do bem, desencarnados e encarnados, que, unidas, tudo fizeram para que a mensagem não apresentasse equívocos de qualquer tipo ou grau. O próprio Allan Kardec trabalhou com mais de mil médiuns na elaboração de O livro dos espíritos e as demais obras da Codificação. Isto sem considerar os auxiliares diretos, a sua dedicada esposa – Amélie Gabrielle Boudet –, os estudiosos, os amigos, os antecessores do Espiritismo, entre outros.

Do outro lado da vida, a situação não era diferente, visto que numerosas entidades espirituais, de diferentes níveis evolutivos, atuaram ativamente. Desta forma, lembramos com Kardec: “O Espiritismo vem no tempo previsto cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da Lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que o Cristo só disse por parábolas. […].”  7

        3) A Unificação Espírita e a organização do Movimento Espírita

Consolidada a Doutrina Espírita pela publicação das obras da Codificação, a falange do Espírito de Verdade determinou que a mensagem consoladora de amor e de esclarecimento chegasse a toda a Humanidade, de acordo com a orientação divina: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João, 8:32). Neste sentido, as duas equipes, situadas em planos de vida diferentes, ora encarnadas ora desencarnadas, continuam em trabalho incessante, ampliado ao infinito com a chegada de novos obreiros. O compromisso de levar a Doutrina Espírita a todos os habitantes do planeta, assemelha-se a outra ordenação de Jesus: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos, 16:15).

 O êxito desta empreitada é atemporal, mas exige que os espíritas trabalhem intensamente, verdadeiramente compromissados com a tarefa de Unificação, mantendo-se unidos, a fim de que a universalidade e a unidade dos ensinos espíritas (ver significado em A gênese, cap. I)8 sejam mantidos. Esta é a missão unificadora que cabe a todos os espíritas. Sem a universalidade e unidade doutrinárias, o Espiritismo se esfacela, sobretudo na época atual, marcada por falsos profetas que tentam contaminar a Doutrina com ideias e práticas diferentes das ensinadas pelos Espíritos do Senhor.

O espírita esclarecido é mensageiro das verdades divinas, promovendo incessantemente a união e a unificação do Movimento Espírita. Sendo assim, deve se manter vigilante e atento ao conselho de Erasto, um dos Espíritos orientadores da Codificação, que afirma enfaticamente:

              Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! O arado está pronto; a terra espera; é preciso que trabalheis. Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou. Mas lembrai que, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram; atentai para a vossa rota e segui o caminho da verdade!9

Para que a mensagem espírita seja difundida à Humanidade, as duas equipes, de desencarnados e de encarnados, precisam continuar atuando em sintonia.

Neste sentido, os orientadores da Vida Maior idealizaram e planejaram no além-túmulo organização de grupamentos espíritas que, posteriormente, seriam (e são) erguidos no plano físico. É desta forma, simples e laboriosa, que surgiram e surgem continuamente os centros espíritas, unidades básicas do Movimento Espírita. Por meio desse planejamento é que foi fundada a Federação Espírita Brasileira, nasceram todas as Federativas Estaduais e os todos os demais órgãos de unificação do Movimento Espírita brasileiro. O modelo se reproduz em outros países, respeitando-se as tradições culturais e as características dos povos.

Em outras palavras, as sociedades espíritas, municipais, estaduais, nacionais e a internacional resultam da Unificação Espírita, promovida pelos Espíritos guardiães da Terra, mas executada pelos trabalhadores do bem, fiéis aos planos de Jesus para nossa Humanidade.

A Unificação Espírita conduz à formação e manutenção dos núcleos espíritas, não o contrário. Os centros espíritas são, por meio dos seus trabalhadores, os instrumentos utilizados pelo Alto para propagar a Doutrina Espírita, de pô-la em marcha, em movimento, em todos os quadrantes do mundo.

Os desafios para a execução do trabalho de Unificação não é pequeno nem simples, pois compreende dedicação e sobretudo amor à Causa, trazida a Humanidade pelo Cristo, como nos faz recordar  o Espírito de Verdade: “[…]Tomai, pois, por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade impõem. O sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao espírito e resignação. […].”10

 

REFERÊNCIAS:

  1. XAVIER, Francisco Cândido. Unificação (mensagem recebida na Comunhão Espírita Cristã , em 20 de abril de 1963, em Uberaba-MG. Publicada em Reformador  de outubro de 1995, p. 314.
  2. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 11. imp. Brasília: FEB, 2021 Cap. VI, it. 4, p. 100.
  3. 2 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/ wiki/Paráclito. Acesso em: 7 de fevereiro de 2024
  4. 3 ____.____.
  5. 4 ____.____.
  6. 5 XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. 11. imp. Brasília: FEB, 2020. q. 352.
  7. 6 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 11. imp. Brasília: FEB, 2021. VI, it. 4, p. 100.
  8. 7 ____. A gênese. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2019. Cap. I – Caráter da Revelação Espírita.
  9. 8 ____. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. 11. imp. Brasília: FEB, 202. Cap. XX, it. 4, p. 263.
  10. 9 ____.____. cap. VI, it. 8, p. 103.

 

 

 


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