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Entrevista Medicina e Espiritualidade

Confira um trecho da entrevista realizada com a médica e presidente da Associação Médico-Espírita de Goiás, Ana Paula Vecchi, abordando alguns temas como Medicina e Espiritualidade, dores recorrentes na infância, doenças crônicas, entre outros. Leia o  material na íntegra na edição de março da revista Reformador!

Reformador: Quando e como surgiu em sua vida o interesse pelas relações entre Medicina e Espiritualidade?

Ana Paula: Pergunta difícil de responder. Desde os 4 anos eu dizia que queria ser médica de crianças; entrei na Faculdade de Medicina aos 16. Nessa mesma época, aos 15 anos, li pela primeira vez O livro dos espíritos e fiquei maravilhada, porque ali estavam as respostas que preenchiam a minha alma inquieta. O segundo livro que li foi Nosso lar e toda a sequência dos livros do André Luiz; posso, então, dizer que, durante toda a faculdade, estive “acompanhada” por André Luiz literalmente! Terminei o último livro dele no primeiro ano de residência e desde então o tenho estudado repetidamente e todos os dias descubro algo novo em suas obras e ratifico como esse autor antecipou os conhecimentos médicos, por exemplo, a ação do micro-RNA no genoma, ligando e desligando genes, ou seja, a ação de elementos do citoplasma (que é onde o Espírito se conecta ao corpo) no núcleo, moldando a manifestação gênica. Ele cita isso com outras palavras em Evolução em dois mundos: “[…] para asseverar que a inteligência, influenciando o citoplasma, que é, no fundo, o elemento intersticial de vinculação das forças fisiopsicossomáticas, obriga as células ao trabalho de que necessita para expressar-se […]” (cap. 5, it. Automatismo celular). E em 1997, quando cursava minha residência de pediatria no Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da USP, deparei-me com um cartaz do MEDNESP, com a foto da Dra. Marlene e me emocionei, pois via, naquele movimento, a concretização de algo que eu sempre havia sonhado. Desde então, passei a assistir às conferências dela, a estudar o tema. Porém, foi em Goiânia, a partir do convite do Dr. Jorge Daher, que passei a frequentar a AME e a contribuir com ela.

Reformador: Em palestra realizada na FEB, em 2018, você abordou as dores recorrentes na infância. O que podemos aprender com elas?

Ana Paula: A dor recorrente em membros é caracterizada pela ocorrência de pelo menos três episódios de dor, durante um período de pelo menos três meses, com intensidade suficiente para interferir nas atividades habituais da criança e, na maioria das vezes, está associada a dores de cabeça e abdominais. Muito embora essas dores preocupem os pais e muitos acabam por procurar o pronto atendimento de madrugada, apenas 3% correspondem a doenças orgânicas, as demais são chamadas “dores do crescimento”. Essa dor geralmente é difusa, dói a perna toda, duração de horas, pode despertar a criança à noite, melhora com massagens e no outro dia a criança está bem, o exame físico e os exames laboratoriais são normais. Mas será que o crescimento dói? Se isso fosse verdade todas as crianças, invariavelmente, sentiriam dores, o que não é verdade. Toda dor para ser reconhecida pelo nosso cérebro passa pelo sistema límbico e é modulada pelas nossas emoções. Por exemplo, um jogador corta a perna no auge do gol, ele pode nem percebê-la por causa da euforia. Por outro lado, em períodos estressantes, quando passamos por problemas financeiros ou familiares, passamos a ter mais dores de cabeça, sem, no entanto, ter um tumor cerebral. Isso também acontece com nossas crianças, e a mensagem é: a dor é real; a perna dói, mas o problema não está na perna. A dor sinaliza que algo não vai bem, é algum desafio que ela está enfrentando ou na escola, ou em casa, ou na sua relação com seus cuidadores, ou até mesmo ser um reflexo da relação conjugal dos pais, já que o casamento dos pais influência o comportamento dos filhos. Geralmente o início dos sintomas coincide com alguma mudança ou estresse na vida da criança e varia desde coisas sérias como falecimento de parente, abusos e violências até fatos triviais como mudança de escola, rotina ou nascimento de um irmão. A criança é uma grande esponja que absorve ou reflete o seu meio, já dizia Montessori; é a manifestação dos desajustes dos seus cuidadores, repetia Winnicot, e André Luiz vai nos dizer que a criança é médium de seus pais: “[…] a maioria esmagadora de Inteligências encarnadas retratam psicologicamente aqueles que lhes deram o veículo físico, transformando-se, por algum tempo, em instrumentos ou médiuns dos genitores em face do ajustamento das ondas mentais que lhes são próprias, em circuitos conjugados, pelos quais permutam entre si os agentes mentais de que se nutrem” ( Mecanismos da mediunidade, cap. 16). Por isso é essencial uma abordagem pautada em outro paradigma – o método clínico centrado no paciente/família, isto é, o modelo de atendimento busca o entendimento de possíveis fatores psicossociais determinantes ou agravantes do quadro. Isso implica o conhecimento do sujeito e da família e de como a doença é vivenciada por eles. A boa notícia é que mais da metade dos pacientes voltam sem dor após a primeira consulta, pois nesta abordagem ampla geralmente os fatores estressantes são identificados. Entretanto, somente um médico especialista, após uma avaliação clínica e laboratorial, poderá fazer o diagnóstico e a condução do caso.

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