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A bondade

Divaldo Franco
Professor, médium e conferencista espírita
 
Nada obstante o suceder dos desafios crescentes da atualidade, o ser humano, embora aturdido pelos desastres de toda ordem que o afligem, desvela sentimentos que lhe jazem adormecidos.
As lutas da atualidade, decorrentes de vários fatores, especialmente da pandemia de Covid-19 e dos cuidados que são necessários para evitar-lhe o contágio, têm provocado a brutalidade da violência como mecanismo de defesa para a sobrevivência.
Recrudescem os atos de brutalidade, especialmente contra os mais fracos, aqueles que a sociedade sempre tem repelido ou finge não existir, ameaçando a estabilidade emocional praticamente de todas as pessoas.
Há uma vaga sensação que paira no ar, de intranquilidade e rebeldia, de medo e falta de direcionamento moral, como se o temido caos social já se encontre instalado.
Periodicamente as redes sociais, que apresentam as notícias mais variadas, e na maioria das vezes são utilizadas para a futilidade e o exibicionismo, apresentam fatos que demonstram a excelência dos valores éticos, quase sempre violados ou esquecidos.
Por exemplo, lemos numa dessas redes que a polícia foi chamada para punir um jovem muito pobre, que vendia água engarrafada e parecia estar perturbando os transeuntes para que lhe comprassem o líquido precioso. Quando o carro dos militares chegou, um soldado inquiriu o rapaz, que lhe respondeu ainda não ter vendido nada e que estava com muita fome, a ponto de quase não aguentar movimentar-se com a caixa recheada.
O policial examinou-lhe o volume de isopor e constatou-lhe a verdade.
De imediato, levou-o a uma lanchonete próxima, pagou-lhe uma refeição e comprou-lhe todo o estoque, sugerindo que o readquirisse, prosseguindo no seu mister.
O jovem, surpreso, atendeu jubiloso e, mais tarde, quando o militar passou pelo mesmo lugar, ao entardecer, encontrou-o alegre por já haver vendido mais de uma caixa.
Embora a bondade seja uma virtude natural, decorrente da origem da criatura humana, que tem a Divindade no seu mundo interior, tem cedido lugar à indiferença e ao egoísmo no comportamento humano.
É tão fácil ser gentil e ampliar o coração mediante gestos de bondade, que o despertar da consciência para tal atitude produz uma reação orgânica de bem-estar resultante dos hormônios que facultam a felicidade.
Sócrates, em Atenas, divulgou o pensamento clássico dos sábios antigos que se encontrava num pórtico do santuário de Delfos, de grande significado: “Conhece te a ti mesmo”, hoje considerado terapêutico para a superação das más inclinações e atos abomináveis.
Vale a pena desenvolver a bondade mediante atos de pequena significação, a fim de ser novamente criada a cultura da paz e da solidariedade, e a vida ser digna de experienciada.
 
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 18 de novembro de 2021.

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