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O compromisso moral dos espíritas

Em O Livro dos Espíritos consta a seguinte definição de moral: “[…] é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando faz tudo pelo bem de todos, porque então cumpre a Lei de Deus.”1 A resposta transmitida pelos Espíritos orientadores em relação à regra de bem proceder nos aponta, de imediato, para o entendimento de duas ideias fundamentais: a) conhecimento do bem e do mal; b) prática da Lei de Deus.

Segundo o dicionário, Bem é “aquilo que enseja as condições ideais ao equilíbrio, à manutenção, ao aprimoramento e ao progresso de uma pessoa ou de uma coletividade.” 2 indica também, segundo os princípios da Ética, “conjunto de princípios fundamentais propícios ao desenvolvimento e ao aperfeiçoamento moral, quer dos indivíduos, quer da comunidade.” 2 Mal por sua vez,  indica “[…]o que é prejudicial ou fere; o que concorre para o dano ou a ruína de alguém ou algo; o que é nocivo para a felicidade ou o bem-estar físico ou moral.” 3

Os Espíritos da Codificação Espírita, resumem as diferentes conceituações existentes a respeito do bem e do mal difundidas pela Filosofia e pela Ética quando afirmam: “o bem é tudo o que é conforme à Lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringir essa lei.” 4 Contudo, para praticar a Lei de Deus ou Lei de Amor, tal como Jesus nos ensinou, faz-se necessário conhecê-la, pelo estudo e pelas reflexões. Sem este aprendizado e consoante a nossa imperfeição espiritual, as boas intenções de renovação moral se revelam infrutíferas, na maioria das vezes.  É importante, pois, aprendermos distinguir o bem do mal. Tarefa esta que exige atenção e persistência contínuas.

A ignorância a respeito da Lei de Deus pode nos conduzir a ações graves, cujas consequências extrapolam o tempo e o espaço e que, cedo ou tarde, teremos de responder pelos equívocos cometidos, visto que a “Lei de Deus é para todos, mas o mal depende principalmente da vontade que se tenha de praticá-lo[…].”5 A responsabilidade da prática do mal, individual ou coletiva, é algo que precisa ser, cuidadosa e seriamentemente, pensado e analisado.  Allan Kardec pondera a respeito:

As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. Muitas vezes o homem comete faltas que, embora decorrentes da posição em que a sociedade o colocou, não são menos repreensíveis. Mas a sua responsabilidade é proporcional aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal. É por isso que o homem esclarecido que comete uma simples injustiça é mais culpado aos olhos de Deus do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos.6

O compromisso moral que o espírita assume nesse particular é muito relevante, uma vez que, por não desconhecer as noções básicas do Espiritismo, tem consciência da sua realidade espiritual como Espírito imortal, que sabe de “[…] onde vem, para onde vai e por que está na Terra; um chamamento aos verdadeiros princípios da Lei de Deus e consolação pela fé e pela esperança.”7

O espírita sabe que conceitos de bem e mal, anunciados por Espíritos superiores, são atemporais e de abrangência universal, não produzem dúvidas ou interpretações equivocadas, independentemente do nível intelecto-moral das pessoas. Dessa forma, a compreensão da Lei de Deus é compromisso que os espíritas sinceros abraçam como uma causa decisiva à sua melhoria evolutiva. O amor é a solução para todos os males. É o caminho que conduz à plenitude espiritual, como esclarece Fénelon na seguinte mensagem da qual extraímos alguns trechos, como ilustração:

      1. O amor é de essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes no fundo do coração a centelha desse fogo sagrado. […].8
      2. Esse germe se desenvolve e cresce com a moralidade e a inteligência e, embora oprimido muitas vezes pelo egoísmo, torna-se a fonte de santas e doces virtudes que constituem as afeições sinceras e duráveis e vos ajudam a transpor o caminho escarpado e árido da existência humana. […].8
      3. A tarefa é longa e difícil, mas será realizada: Deus o quer e a lei de amor constitui o primeiro e o mais importante preceito da vossa nova doutrina, porque é ela que um dia matará o egoísmo, seja qual for a forma sob a qual ele se apresente, visto que, além do egoísmo pessoal, há também o egoísmo de família, de casta, de nacionalidade. Disse Jesus: “Amai o vosso próximo como a vós mesmos”.8
      4. Ora, qual é o limite com relação ao próximo? Será a família, a seita, a nação? Não; é a Humanidade inteira. […].9
      5. Os efeitos da lei de amor são o melhoramento moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrestre. Os mais rebeldes e os mais viciosos se reformarão, quando observarem os benefícios resultantes da prática desta sentença: Não façais aos outros o que não gostaríeis que os outros vos fizessem; fazei, ao contrário, todo o bem que puderdes fazer-lhes. […].9
      6. Amados irmãos, aproveitai essas lições; sua prática é difícil, mas a alma retira delas um bem imenso. Crede-me, fazei o sublime esforço que vos peço: “Amai-vos”, e logo vereis a Terra transformada num paraíso em que as almas dos justos virão repousar. – Fénelon. (Bordeaux, 1861.)9

REFERÊNCIAS 

  1. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. ed. 10. imp. Brasília: FEB, 2021. Questão 629, p. 288.
  2. HOUAISS, Antônio. VILLAR, Mauro Salles e FRANCO, Francisco Melo. Dicionário Houaiss da língua portuguesa (com a nova ortografia). 1. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 275.
  3. _______. p. 1219.
  4. KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. ed. 10. imp. Brasília: FEB, 2021. Questão 630, p. 288.
  5. _______. Questão 636, p. 289.
  6. _______. Questão 637, p. 289-290.
  7. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 11. imp. Brasília: FEB, 2021. Cap. VI. It. 4, p. 101.
  8. _______. Cap. XI. It. 9, p. 151
  9. _______. p. 152.

 

 


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